terça-feira, maio 15, 2007

Night and the City (1950)



“The night is tonight. The city is London” – narrador em Night and the City


Realizado por Jules Dassin, Night and the City (1950) seria o seu último filme a ser produzido com capital norte-americano, visto que dois anos após o seu lançamento, Dassin é apontado na “Caça às Bruxas” por outro realizador e, logo, afastado dessa indústria cinematográfica.

A história centra-se em Harry Fabian, um (ainda) jovem ambicioso que se envolve em apuros pelas razões do costume: dinheiro, ganância e, claro está, mulheres. A sua ambição desmedida de ser bem sucedido, leva-o a recorrer, repetidamente, a empréstimos e a depender do dinheiro para tudo. A título de exemplo, veja-se a “pressa” com que mandou colocar uma placa com o seu nome, intitulando-o de manager, assim que abriu o ginásio de boxe com o dinheiro que Helen e o seu marido, Phil, lhe haviam dado (sempre a troco de algo). Mas todos os esquemas que Harry inventa para obter o que pretende estão longe de serem limpos: a chantagem paira no ar. As dificuldades acrescem, ganham corpo e Harry, não conseguindo lidar com a sepultura que ele próprio cavou, acaba em constante fuga. A saída poderá ser a sua namorada, Mary, o oposto da uma suposta femme fatale que é Helen. Mas ela terá “trocado” Harry por um namoro mais estável e seguro com o seu vizinho. Nada resta a Harry senão a morte.

Enquanto espectadores, o sentimento em relação a Night and the City varia consoante as duas partes em que o filme pode ser dividido. Numa primeira parte, as artimanhas que Harry arranja chegam a ser engraçadas, a tocar o cómico, embora não se nutra qualquer tipo de simpatia por aquela personagem. No entanto, a posição pode mudar abruptamente assim que este noir se torna mais trágico e violento na segunda metade do filme. O que acontece é uma transcendência do género do noir para um drama profundo, onde não há esperança nem porto de abrigo. A face do anti-herói que é Harry, de olhos semi-esbugalhados, com suor e uma expressão de caos, apenas corrobora o sentido dramático-existencialista que Dassin imprime ao filme.

Ainda voltando ao noir: Night and the City abre com uma sequência puramente negra que consiste em Harry a fugir de quem o persegue pelas ruas de Londres (!) by night. E o registo continua quando ele se refugia em casa da sua adorável namorada, Mary. Ela é apresentada como a “outra” mulher para além da femmme fatale, a que pouparia Harry às consequências dos seus actos. Mas ele está demasiado febril de ambição para o ver e, deste modo, se expira a hipótese de salvação. O desespero e o isolamento tão característicos do noir, não deixarão Harry impune.

Dassin mostrou tudo isto apostando numa cidade de Londres labiríntica, enevoada e desorientadora, em planos determinados e ângulos fechados sobre o rosto de Harry, colocando-o numa dolorosa escuridão por entre edifícios ameaçadores que parecem convergir para o sufocar.

Mas, como Mary cantava: “Here’s to tomorrow morning”.


Cláudia Morais