sábado, janeiro 14, 2006

A Dama De Xangai

A Dama De Xangai

Orson Welles


O regresso de Orson Welles ao cinema negro acontece com o filme The Lady From Shanghai (1948) que apesar de não ser o típico film noir, reúne aspectos interessantes que nos remetem para o género. A iluminação e a voice-over são os primeiros elementos noir que o filme apresenta, estes coexistem ao longo de todo o desenrolar da acção, que “ondeia” principalmente em meio aquático, um cenário não muito usual neste género.
Relativamente às personagens de Rita Hayworth e Orson Welles, não existe qualquer dúvida que o seu perfil encaixa perfeitamente no da femme fatale para a primeira e do tough guy para o segundo. A belíssima Elsa Bannister (Rita Hayworth) apresenta-se como uma mulher inocente e frágil, cujo inegável sex appeal quase se torna repulsivo, quando nos apercebemos que afinal estamos perante uma vilã torpe. Michael O’Hara (Orson Welles) é um marinheiro sedutor com sotaque irlandês, que, apesar de não ser um criminoso, vive com o facto de já ter assassinado um homem. Nesta trama é usado
como isco para os “tubarões” Arthur (Everett Sloane) e Elsa Bannister.
À medida que o tempo passa, a intriga torna-se progressivamente mais complexa e densa, chegando o espectador a sentir-se um pouco confuso com as voltas que os acontecimentos vão dando e com o facto de todas as personagens agirem sem qualquer ética. Esta confusão traduz-se visualmente na cena final, na casa dos espelhos. Os múltiplos reflexos que se vêem, conjuntamente com o estilhaçar dos espelhos no momento do tiroteio, transforma esta cena numa espécie de caleidoscópio gigante, tornando-a extremamente pertinente no contexto geral película, que pode ser comparada, a um espelho quebrado, constituído por numerosas lascas geniais que, juntas, não fazem sentido.



Ágata Santos