quarta-feira, dezembro 13, 2006

Enganar ou deixar-se enganar?

Quando uma bela mulher se abeira de Sam Spade que não sabe resistir ao género, tudo pode correr mal. E é o que acontece em Maltese Falcon. Ao atender ao pedido de socorro de uma mulher tentadora, o detective perde por momentos a cabeça, ainda que de forma subtil e não tanto perceptiva como o seu colega Miles Archer, que acaba morto, como se o preço da cobiça de uma mulher e de ser um tipo simpático num filme repleto de cinismo e antipatia fossem sete palmos de terra por cima. Quanto a Sam, e a mim, mantém-se durante toda a história jogando pela defensiva, uma vez que cedo percebe o quanto é enganado por uma mulher que mesmo aparentando insegurança, medo e nervosismo, tenta passar-lhe a perna até ao fim. Joel Cairo, uma personagem um pouco alienada, chega mesmo a acusá-la de usar o corpo para conseguir o que quer, e o espectador poderá mesmo colocar a pureza desta mulher em dúvida atendendo às histórias, sempre mentiras, que vai inventando, para conseguir a ajuda do cínico detective. Contudo, sendo um detective experiente e inteligente, cedo percebe que Brigit lhe mente e vê-se num rol de mentiras e ladrões dos quais só poderá fugir resolvendo o mistério do falcão. E efectivamente, este detective sai como herói de todo este mistério, mas isso não faz dele boa pessoa, para sair ileso teve de ser tão corrupto como aqueles de quem tentava escapar. Sam chega a um ponto que entra numa corrida, precisa descobrir porque morreu o seu sócio, limpar o seu nome com os polícias, quem é Miss Wonderly, porque é o pássaro tão cobiçado, quem é Joel Cairo e que pretende, qual a sua relação com Gutman, porque está ele próprio metido nisto, e porque estão todos envolvidos. A meta que alcança em todos estes mistérios, que se revelam ser um só, faz dele o mais inteligente e amoral detective da história do crime.

Alexandra Santos